desCONSTRUINDO Tiradentes através do cinema

          

Tiradentes e sua representação através do cinema  Escrito Por Thaís Breder


   Aprendemos sobre Inconfidência Mineira e sobre a figura de Tiradentes através de diversos meios, como, por exemplo, nos livros didáticos que nos são passados nas escolas, em filmes, documentários, séries, entre outros. Gostaria de me atentar aqui a um filme em particular: “Tiradentes” | O Filme de 1998 |, o longa nacional, que pode ser encontrado facilmente na rede de vídeos YOUTUBE, mesmo detendo de algumas ilustrações que hoje sabemos não serem as corretas, mostram uma visão do alferes diferente da visão padrão:
"Tiradentes é um filme brasileiro de 1998, do gênero drama biográfico-histórico, dirigido por Oswaldo Caldeira. O filme foi produzido por Oswaldo Caldeira Produções Cinematográficas e Paula Martinez Mello; o roteiro é de Oswaldo Caldeira; a música de Wagner Tiso; a direção da fotografia de Antônio Luiz Mendes; a direção de arte, cenografia e figurino de Anísio Medeiros, e a edição de Amauri Alves. A trajetória de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Humberto Martins), líder da Inconfidência Mineira, um movimento surgido em Vila Rica (Ouro Preto) em 1789. Tiradentes sonhou junto com amigos e intelectuais ver o Brasil independente do domínio português, mas esbarrou na traição de Joaquim Silvério dos Reis (Rodolfo Bottino)."
    O filme mostra um pouco da vida dos inconfidentes mineiros, principalmente de Tiradentes, dentro do contexto da Inconfidência. A insatisfação devido as altas cobranças de impostos pela Coroa, como a derrama, é ressaltada no longa, para mim, uma das principais cenas é quando Tiradentes toma posse da constituição dos EUA, mostrando que a Independência da América do Norte influenciou diretamente o levante mineiro, e foi de extrema importância para o alferes, que andava sempre com o livro. Essa influência se deu porque a Revolução Americana era anticolonialista, e o propósito da Revolução Mineira era se separar de Portugal e instalar uma República independente.

    Os livros foram de extrema importância para a Inconfidência, essa conspiração só foi possível devido a posse e a leitura de obras com conteúdo político, dando um rumo aos inconfidentes, ou seja, a boemia literária é inseparável da revolta. Não só os livros foram influentes, mas jornais, a própria constituição dos EUA, como já dito acima, ideias iluministas, a Restauração Portuguesa, ideias da Nova Escolástica e poemas também interferiram nos ideários dos modos de como se fazer os levantes. Essa importância literária afirma que a Inconfidência foi um movimento oligárquico, de dominação da elite, pois essa classe social era a única (claro, toda regra tem exceção) letrada, com capacidade de interpretação e possuidora de bibliotecas com obras literárias.




    Assistindo ao filme já citado acima, e até mesmo em diversos livros didáticos, temos a impressão que Tiradentes era o membro da Inconfidência Mineira MAIS preocupado em separar o Brasil de Portugal e a implantar uma república. Em diversas cenas o protagonista é mostrado como único incentivador do levante, preocupado mais que os outros parceiros em aderir seguidores e fazer a revolução, essa imagem nos é passada para que possamos enxergá-lo como um líder da Inconfidência. A imagem de líder cresce quando nos é ensinado que Tiradentes foi o único a morrer pela revolução, mas na verdade foi condenado à morte por ser o único dos revoltosos que não detinha de grandes posses. A maioria envolvida na Inconfidência fazia parte da elite da cidade de Ouro Preto, eram figuras importantes, com grandes riquezas e de grande influência, por isso a maioria não foi sequer presa ou processada, deixando a culpa em cima do homem de menos fortuna. Tiradentes foi executado de forma a amedrontar os cidadãos de Minas Gerais, usado como exemplo de punição á todos que pensassem em se voltar contra a Coroa. Foi enforcado no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792 e o corpo separado em quatro partes que foram expostas no caminho entre Rio de Janeiro e Minas Gerais.



  A principal pergunta que tentaremos responder nesse blog é: "Afinal, quem realmente foi Tiradentes?", não podemos negar que foi um homem de importância para a Inconfidência Mineira, revolução essa que devemos lembrar ter fracassado, mas devemos ter cuidado ao vê-lo como herói ou líder, essa importância só foi atribuída a ele muitos anos após sua morte. A necessidade do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - criado com intuito de fomentar o estudo e o conhecimento sobre a história brasileira, e a CRIAR essa história), em ter uma figura heroica nacional fez com que surgisse o mito de Tiradentes, esse executado a mais ou menos um século antes de se instalar a república no Brasil, justamente por se levantar contra a monarquia em prol da República, foi usado como um símbolo, virando feriado nacional, principalmente para justificar e enaltecer a república e provocar quem ainda tinha o pensamento monárquico. O filme de 1998 é uma boa ilustração da figura de Joaquim, pois não o eleva somente a figura heroica que estamos acostumados a ver, mas também mostra como, em diversas ocasiões, expôs o movimento ao contar sobre ele para quaisquer pessoas, fosse embriagado nos bares, ruas e até mesmo em prostíbulos para as prostitutas.

Alguns equívocos do filme


  • Retratar Tiradentes com os cabelos bem compridos: na verdade Tiradentes nunca usou barba ou cabelos longos, isso porque por ser um militar, o máximo que poderia usar era um discreto bigode.
  • Em algumas cenas vemos confrontos armados, o que pode dar a entender ao espectador que a Inconfidência Mineira teve desses conflitos, mas ela não chegou a passar de especulação. 
  • Tiradentes como homem casado: Tiradentes não foi casado, e apesar disso teve dois filhos, João e Jaquina. 
  • Aparência: segundo relatos da época, Tiradentes era alto, magro e de pouca beleza

Para saber mais

Membros Importantes que fizeram parte da Inconfidência Mineira :

  • Domingos de Abreu Vieira.
  • Os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa e Carlos Correia de Toledo e Melo.
  • O cônego Luís Vieira da Silva.
  • Os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
  • Coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes.
  • Capitão José de Resende Costa e seu filho José de Resende Costa Filho.
  • Sargento-mor Luís Vaz de Toledo Pisa.

Referências:

Thais Nívia de Lima e Fonseca. A Inconfidência Mineira e Tiradentes vistos pela Imprensa: a vitalização dos mitos (1930-1960) 
VILLALTA, LUIZ Carlos. Usos do Livro no Mundo Luso Brasileiro sob as Luzes: reformas, censura e contestações. Belo Horizonte: Fino Traço, 2015, p.125-159.

Por Thaís Breder Vieira Cerqueira, graduanda do quarto período de História na Universidade Federal de Ouro

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